O PESO DA GLÓRIA
Certo guerreiro recebia uma medalha por cada batalha ganha. Os amigos
admiravam sua coragem, e as mulheres adoravam seu carisma.
No final de alguns anos, as medalhas eram tantas que cobriam todo o seu
uniforme. Numa tarde, no meio de um combate difícil, o guerreiro quase foi
atingido pela espada de seu inimigo.
“Sempre fui o melhor, e hoje quase perdi”, pensou o guerreiro.
Mas logo percebeu o problema: o peso das medalhas não o deixava lutar com
agilidade. Jogou a túnica do uniforme no chão, voltou ao campo de batalha, e
derrotou seus inimigos.
“A vitória pode me dar confiança, mas não pode se transformar em um peso a
ser carregado”.
NASRUDIN E O OVO
Certa manhã, Nasrudin – o grande místico sufi que sempre fingia ser louco – colocou um ovo embrulhado em um lenço, foi para o meio da praça de sua cidade, e chamou aqueles que estavam ali.
“Hoje teremos um importante concurso!”, disse. “Quem descobrir o que está embrulhado neste lenço, eu dou de presente o ovo que está dentro!”
As pessoas se olharam, intrigadas, e responderam:
“Como podemos saber? Ninguém aqui é capaz de fazer adivinhações!”
Nasrudin insistiu:
“O que está neste lenço tem um centro que é amarelo como uma gema, cercado de um líquido da cor da clara, que por sua vez está contido dentro de uma casca que quebra facilmente. É um símbolo de fertilidade, e nos lembra os pássaros que voam para seus ninhos. Então, quem pode me dizer o que está escondido?”
Todos os habitantes pensavam que Nasrudin tinha em suas mãos um ovo, mas a resposta era tão óbvia, que ninguém resolveu passar vergonha diante dos outros.
E se não fosse um ovo, mas algo muito importante, produto da fértil imaginação mística dos sufis? Um centro amarelo podia significar algo do sol, o líquido ao redor talvez fosse um preparado alquímico. Não, aquele louco estava querendo fazer alguém de ridículo.
Nasrudin perguntou mais duas vezes, e ninguém se arriscou a dizer algo impróprio.
Então ele abriu o lenço e mostrou a todos o ovo.
“Todos vocês sabiam a resposta”, afirmou. “E ninguém ousou traduzí-la em palavras. É assim a vida daqueles que não têm coragem de arriscar: as soluções nos são dadas generosamente por Deus, mas estas pessoas sempre procuram explicações mais complicadas, e terminam não fazendo nada”.
QUEM AINDA QUER ESTA NOTA?
Cassan Said Amer conta a história de um palestrante que começou um seminário segurando uma nota de 20 dólares e perguntando:
“Quem deseja essa nota de 20 dólares?”
Várias mãos se levantaram, mas o palestrante pediu:
“Antes de entregá-la, preciso fazer algo”.
Amassou-a com toda fúria, e insistiu:
“Quem ainda quer esta nota?”
As mãos continuaram levantadas.
“E se eu fizer isso?”
Atirou-a contra a parede, deixou-a cair no chão, ofendeu-a, pisoteou-a, e mais uma vez mostrou a nota – agora imunda e amassada. Repetiu a pergunta, e as mãos continuaram levantadas.
“Vocês não podem jamais esquecer esta cena”, comentou o palestrante. “Não importa o que eu faça com este dinheiro, ele continua sendo uma nota de 20 dólares. Muitas vezes em nossas vidas somos amassados, pisados, maltratados, ofendidos; entretanto, apesar disso, ainda valemos a mesma coisa”.
UM OUTRO NOME
Um homem se virou para o amigo e disse: “você fala de Deus como se você o conhecesse pessoalmente, e soubesse até mesmo a cor dos seus olhos. Por que esta necessidade de criar algo em que acreditar? Será que você não consegue viver sem isso?”
“Você tem alguma ideia de como o Universo foi criado? Sabe explicar o milagre da vida?”
“Tudo a nossa volta é fruto do acaso. As coisas acontecem”.
“Certo. Então, “As coisas acontecem” é apenas um outro nome de Deus.
Fonte: g1/Paulo Coelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário
É muito bom receber a visita de vocês aqui no blog, um prazer imenso receber seus comentários e interagir com você, sinta-se a vontade em comentar!