A Doença de Refsum é parte de um grupo de doenças
genéticas chamadas leucodistrofias, que danificam progressivamente a bainha de
mielina dos neurônios, afetando diversos sistemas do organismo. É um transtorno hereditário autossômico recessivo, um erro inato
do metabolismo causado pelo acúmulo de ácido fitânico no sangue e tecidos, pela
incapacidade de metabolização do organismo, onde o defeito herdado consiste em
um bloqueio da oxidação alfa desse ácido, havendo uma deficiência no metabolismo pelos peroxissomos. Autores sugerem que o acúmulo do ácido fitânico inicia a
morte celular dos astrócitos, ativando a rota de apoptose mitocondrial. O ácido fitânico constitui 10 a 30% dos ácidos graxos no
plasma, e tem como precursores
substâncias contendo clorofila e fitol.
Os primeiros casos da doença foram relatados em 1945
por Sigvald Refsum, a propósito de quatro pacientes de duas famílias distintas,
que denominou heredophathia
ataxia polyneuritiformis, atualmente sendo conhecida como Doença de Refsum.
A Doença de Refsum é uma doença
neurológica rara caracterizada principalmente por neuropatia sensorial, ataxia
cerebelar, anosmia, retinite pigmentosa, pele seca, deformidades esqueléticas e
ictiose, sendo mais comum em crianças ou adultos jovens de origem escandinava.
Os pacientes com Doença de Refsum sofrem também de neurodegeneração e distrofia
muscular, podendo apresentar hipotonia, areflexia/hiporeflexia e
hemiplegia/hemiparesia. O acúmulo de ácido fitânico em tecidos graxos da
mielina, coração, fígado e retina é que leva às alterações citadas.
No início do quadro são comuns
manifestações oculares como cegueira noturna e restrição concêntrica do campo
visual, em virtude da retinose pigmentar que se instala1. O
prognóstico desta doença é reservado, progredindo os sintomas algumas vezes até
cegueira completa e surdez, frequentemente aumentando e diminuindo de
intensidade. As recidivas são bastante irregulares, estando correlacionadas com
o grau de aumento das proteínas liquóricas.
A Doença de Refsum é de difícil e
complexo diagnóstico, realizado mediante análise cromatográfica do plasma,
sendo confirmado pela presença de acidemia fitânica.
A terapia consiste numa dieta com
baixo teor de fitol e clorofila,
por exemplo, frutas, vegetais e manteiga. No entanto, sabe-se que a restrição
da dieta com ácido fitânico, não é totalmente suficiente para prevenir os
surtos agudos da doença e nem estabilizar seu curso progressivo.
Considerando que o paciente com
Doença de Refsum pode apresentar inúmeras alterações motoras, decorrentes do
comprometimento neurológico, surge a necessidade da intervenção fisioterápica,
juntamente com o tratamento clínico, visando um melhor prognóstico e qualidade
de vida do paciente.
TRATAMENTO
A doença não tem cura, mas sim
tratamentos. Atualmente para a doença de Refsum não há cura, mas alguns
tratamentos auxiliam na diminuição dos sintomas, trabalhando na diminuição do
tônus, melhora na movimentação ativa dos pacientes, facilitando e retardando a
sintomatologia prevista pela patologia.
Segundo a Sociedade Americana de Leucodistrofias (2001), o Departamento de Neurologia Clínica, do
Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia de Londres (2001), Gibberd (2005), Aubourg (2005), Wanders (2006) e Wanders, Waterham, Bart (2010) o tratamento mais indicado e utilizado
para a doença de Refsum é a plasmaferese. Esse é um procedimento no qual é
realizada transfusão sanguínea. Esta constitui
uma técnica de purificação extracorpórea de sangue projetada para remover
partículas de grande peso molecular.
Acredita-se que o mecanismo de ação
seja a remoção de auto-anticorpos circulantes, imuno-complexos, citocinas e outros
mediadores inflamatórios.
Além da dieta e plasmaferese, um dos tratamentos mais
importantes que um paciente pode fazer é manter-se em bom estado geral de
alimentação, repouso e exercícios de forma sensata.
O Departamento de Neurologia
Clínica, do Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia Londres, Reino
Unido (2001) Gale (2005), Gibberd
(2005), Ruether et al (2010), Zalewska
(2011) referem que na dieta devem ser evitados carnes e verduras e podem ser
incluídos carne de aves, suínos, frutas e verduras.
Segundo Aubuorg (2005) A dieta para
portadores de Doença de Refsum: deve ser de cerca da 70 gramas de proteína e
2700 calorias por dia, totalizando menor índice de acido fitânico.
Um exemplo de distribuição
alimentar, com ingestão calórica adequada para evitar o catabolismo causando
lipólise nesses pacientes seria o demonstrado abaixo, segundo Aubuorg
(2005).
Alimentos proibidos
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Produtos de gordura do leite e produtos lácteos: queijo, requeijão,
iogurte com leite integral ou leite integral e sobremesas.
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Chocolate
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A carne de ruminantes: bovinos, ovinos, veados...
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Miudezas, bacon
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Os peixes gordos: peixe azul. Exemplos de peixes magros: bar,
pescada, bacalhau, pargo, arinca, solha, linguado, badejo, skate, crustáceos
(berbigão, mexilhão), lula, caranguejo, camarão.
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Gorduras contidas nas frutas secas ou nozes: azeitonas, nozes, avelãs,
amêndoas, amendoins.
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Verduras de cor verde são ricos em clorofila.
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Alimentos permitidos
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Carne vermelha. Exceto: peito de frango
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Peixe magro
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2 ovos por semana
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Arroz
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Apenas vegetais que crescem subterrâneos
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Frutas sem sementes e descascadas
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Tipo de Margarina “Fruto de Ouro”.
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A consulta com um nutricionista é recomendável para
garantir uma boa quantidade de calorias, proteínas e vitaminas obtidas através
da dieta e suplementos nutricionais que podem ser necessários.
Devido ao ácido fitânico ser armazenado
nos depósitos de gordura no corpo, é importante para os pacientes com doença de
Refsum ter padrões de alimentação regular. Mesmo com breves períodos de jejum,
depósitos de gordura são convertidos em energia, resultando na liberação de
ácido fitânico armazenados na corrente sanguínea, desenvolvendo maiores
comprometimentos ocasionados pela patologia.
Os tratamentos da Doença de Refsum são
farmacológicos e dieta, para monitorar os níveis de ácido fitânico no soro e
garantir que os mesmos continuam baixos.
O tratamento fisioterapêutico tende
a retardar a perda da função motora, paralelo ao processo neurológico
degenerativo. Através desta, é possível oferecer ao paciente alternativas de
conforto e independência nas atividades diárias, melhorando sua qualidade de
vida e funcionalidade
dos movimentos.
A doença de Refsum, não tem
tratamento, mas sim maneiras de controlar a sintomatologia dos pacientes, com
acompanhamento de profissionais da área da saúde, como: nutricionistas, para
controle da dieta, psicólogos para controle sentimental e comportamental,
fisioterapeutas para controle de tônus, médicos para controlar a quantidade de
ácido fitânico presente no plasma sanguíneo, controlando e medicação e a
prescrição da plasmaferese se necessário.
O papel da fisioterapia na Doença de Refsum tem como objetivo prevenir a
perda da função motora e o processo degenerativo da função neurológica, através
de alongamentos, mobilizações articulares, trocas posturais, atividades para
ganho de movimentos finos e diminuir os reflexos da ataxia, fortalecimentos
musculares, atividades que desenvolvam a criatividade e movimentação
coordenada.
O paciente portador dessa doença, como
relatado, apresenta diversas alterações e distúrbios cinéticos funcionais, nas
quais é fundamental a atuação da fisioterapia. A recuperação da função motora e
a melhora da qualidade de vida são muito importantes para o paciente neurológico,
sendo que o objetivo mais importante da fisioterapia, na reabilitação de
paciente com alterações neurológicas crônicas é alcançar o maior grau de
independência do paciente. O tratamento fisioterápico tende a retardar a
perda da função motora paralelo ao processo neurológico degenerativo que é irreversível.
Através da fisioterapia é possível minimizar ou evitar as aderências
articulares e atrofias musculares, prevenir úlceras de pressão, oferecendo ao
paciente alternativas de conforto e independência nas AVD´s, melhorando a
qualidade de vida e tornando os movimentos mais funcionais.
Estudo realizado acompanhou os atendimentos de uma paciente
com a patologia, sendo que a mesma iniciou com os sintomas da doença aos 23
anos de idade, para tratamento foram realizados semanalmente acompanhamento com
uma psicológa, um fisioterapeuta e uma nutricionista. A paciente apresentou
melhora significativa com os atendimentos realizados, resultando na diminuição
da ataxia, melhora na coordenação dos movimentos realizados, ganho de peso e
melhora no convívio com outras pessoas além de melhor aceitação da patologia.
Referências:
BUSS, A. S.; BORBA L. S.; SACCANI, R. Atuação da fisioterapia em
paciente com Doença de Refsum. Relato de caso. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 114, Nov 2007.
MÜLLER, C. A.; BENELLI, D. A. Doença de Refsum. Uma revisão
bibliográfica. EFDeportes.com, Revista Digital.
Buenos Aires, Nº 167, Abr 2012.
Ola ,tenho um casal de gemeos , 11 anos,ele com problemas no nervo o´ptico(ambos olhos) ela "agenesia" de falanges na mão direita.refsum parece o mais provável.a suspeita é que ele tenha "sindrome de leber", o que é mais grave,mas a mão da irmã imdica Refsum,uma doença complexa .
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