História
A doença de
Machado Joseph (DMJ) é uma doença hereditária de conhecimento recente. A primeira descrição oficial data
de 1972, tratava-se de uma família Luso-americana descendente de Guilherme
Machado, que nasceu em São Miguel e emigrou com os filhos para Massachusetts,
daqui o nome Machado. No mesmo ano, em descendentes de José Tomás, originário
das Flores, foi descrita uma doença semelhante.
Em 1976 na Califórnia,
foi descrita outra família açoriana (família Joseph), com outra doença
neurológica. Era a família de António Jacinto Bastiana, nascido na Ilha das
Flores em 1815 e emigrado para São Francisco em 1845, falecendo em 1870,
deixando sete filhos, quatro dos quais viriam a ser afetados como ele pela
doença. Hoje são conhecidos mais de 600 descendentes seus na Califórnia, muitos
dos quais afetados pela doença. Muitas outras famílias açorianas afetadas
emigraram para os EUA. De São Miguel, sobretudo para a Nova Inglaterra e das
Flores principalmente para a Califórnia.
Em
1978, nas Flores e São Miguel, foram encontradas as primeiras 15 famílias que
partilhavam muitas das características das doenças descritas anteriormente.
Conclui-se então que se tratava da mesma doença, com uma variabilidade clínica
muito grande, à qual deram o nome de Doença de Machado-Joseph. Alguns anos mais tarde e casualmente
foi encontrada a primeira família continental com a DMJ. Desde então o número
de famílias continentais diagnosticadas tem aumentado.
Muitas famílias sem
ascendência portuguesa conhecida estão registradas, nos EUA e muitos outros
países. O Japão torna-se um dos principais focos mundiais da doença, enquanto
outras famílias se encontram no Brasil, Índia, China, Austrália, Espanha e
França.
O
que é
A doença de Machado Joseph, é uma
doença rara que provoca a degeneração do sistema nervoso e que não tem cura.
Ela compromete inicialmente a capacidade motora do paciente provocando
descoordenação de movimentos (ataxia).
Assim, o doente apresenta ataxia cerebelar
(descoordenação dos movimentos e da fala), oftalmoplegia externa progressiva
(limitação do olhar vertical para cima) e sinais piramidais/espasticidade
(reflexos exagerados), a que se adicionam em alguns doentes um síndrome
extrapiramidal (posturas e movimentos anormais de torção) ou síndrome periférica
(atrofias musculares). Como sintomas menos comuns temos a retração das pálpebras
(olhos salientes) e pequenas fasciculações da face e língua. Com o evoluir da
doença todos os doentes desenvolvem dificuldades de deglutição. Os doentes da
DMJ não têm qualquer deterioração mental e muitas vezes apresentam por exemplo,
incontinência que resulta das dificuldades de locomoção e não da doença em si.
Para esta doença ainda não há tratamento, mas pode-se melhorar a qualidade de
vida dos doentes tratando algumas das várias complicações.
Esta é uma doença que se manifesta
tardiamente, em média aos 40,5 anos, no entanto pode aparecer desde tenra idade
até aos 70 anos de idade (casos mais raros).
A única forma de prevenir a doença é
o estudo genético do casal que pretende engravidar, de forma a identificar a
probabilidade de possuir o gene defeituoso e passar a doença para o bebê.
Guilherme Karan, um ator brasileiro,
sofre desde 2005 com esta doença degenerativa.
Tratamento para Doença de
Machado Joseph
O
tratamento para a doença de Machado Joseph baseia-se em diminuir as limitações
motoras que surgem a medida que vão aparecendo, uma vez que não há cura para a
doença e não há também tratamento que previna o avançar da degeneração
característicos desta doença.
O
tratamento normalmente tem o objetivo de aliviar os sintomas e melhorar a
qualidade de vida do paciente. Inclui além da fisioterapia, a instituição
de tratamento sintomático para problemas que se instalam com o desenvolvimento da doença como depressão, alterações de sono, Parkinson,
contraturas musculares e dor.
A
doença de Parkinson que se instala pode ser tratada com levodopa ou agonistas
dopaminérgicos. O uso de dopamina e entiespasmódicos também ajudam a melhorar a
mobilidade do paciente, podendo fazer parte do tratamento para a doença de
Machado Joseph.
A Fisioterapia na Doença
de Machado Joseph
A
fisioterapia para a doença de Machado Joseph envolve terapia de reabilitação da
deglutição e é recomendada e essencial para todos os doentes com dificuldade
de deglutição relacionada a danos neurológicos, como neste caso.
A
fisioterapia e a terapia ocupacional podem, ajudar o paciente a escolher qual o
aparelho de assistência à marcha a utilizar, e também ajudando o paciente a se
adaptar às limitações que têm.
Cura para doença de
Machado Joseph
Como
não existe cura para a doença de Machado Joseph, e sendo uma doença muito
grave, é muito importante seu controle e prevenção, para reduzir o
surgimento de novos casos.
A
morte destes pacientes geralmente é causada por complicações habituais da fase
terminal da doença, asfixia ou pneumonias de aspiração. Após o início da
doença, a sobrevida do paciente é de aproximadamente 21 a 25 anos.
Diagnóstico da doença de
Machado Joseph
O
diagnóstico da doença de Machado Joseph é feito através de um teste genético
molecular e também com exame de imagem como a ressonância magnética.
A DMJ é uma doença hereditária, de início
tardio e de transmissão autossómica dominante, pelo que a probabilidade de um
filho ou irmão de um portador carregarem essa doença é de 50%. Como doença
hereditária nasce-se carregando o gene com alteração (mutação do gene).
Em 1994 descobriu-se que o gene mutante
estava localizado no cromossoma 14 do cariótipo humano. Trata-se de um gene
simples com 2 exões e um intrão, havendo no segundo exão uma sequência
repetitiva de um trinucleótico CAG. O número de vezes que este se repete é
variável mas sempre inferior a 40. A mutação nos DMJ consiste nessa repetição
mas com números superiores a 60. Sabe-se ainda que quanto maior for a expansão
do tripleto CAG menor é a idade de início da doença.
É
possível se fazer um diagnóstico pré-natal ainda durante a gravidez através de
amniocentese entre as15-18 semanas de gravidez, ou por biopsia das vilosidades coriônicas
às 12 semanas, apesar de existir muita controvérsia sobre o diagnóstico
pré-natal e a interrupção da gravidez de fetos com esta mutação genética.
Pesquisas
Cientistas portugueses travaram
doença de Machado-Joseph em ratos
Uma equipa de cientistas da
Universidade de Coimbra conseguiu identificar e bloquear, em ratos, um dos
mecanismos de base responsáveis pela degenerescência cerebelar que caracteriza
a terrível doença de Machado-Joseph.
A
confirmarem-se nos seres humanos, os seus resultados poderiam conduzir ao
primeiro tratamento eficaz desta doença genética, que é relativamente rara em
quase todo o mundo, mas que afeta uma em cada 4000 pessoas de ascendência
portuguesa na Nova Inglaterra (EUA) e que, na ilha das Flores, nos Açores, bate
todos os recordes, com uma pessoa afetada.
"A
doença, também designada por ataxia espinocerebelar do tipo 3, foi identificada
como entidade autônoma pelos investigadores e clínicos Paula Coutinho e Corino
de Andrade, do Porto, que lhe deram o nome das duas primeiras famílias para as
quais havia descrições na literatura", disse ao Público Luís Pereira de
Almeida, o líder da equipa do Centro de Neurociências da Universidade de
Coimbra que acaba de publicar o seu trabalho na revista Brain.
A
doença de Machado-Joseph é progressiva e não tem cura. Deve-se a uma mutação
num único gene e basta um dos progenitores ser afetado para os filhos terem uma
probabilidade de 50% de ter a doença.
O gene mutante que a causa,
descoberto em 1994 no cromossoma humano 14, apresenta uma repetição
anormalmente elevada de uma pequena sequência de "letras" do ADN, o
que dá origem a uma proteína anormal - a ataxina-3 -, que forma depósitos
letais dentro do núcleo dos neurônios. Os especialistas já suspeitavam que a
proteína mutante, ao fragmentar-se, conduzia à formação dos depósitos anormais.
E agora, a equipe de Coimbra conseguiu,
ao desvendar o processo de fragmentação, confirmar que esse processo e a
degenerescência cerebelar estão, de fato, relacionados.
Mais precisamente, os cientistas
mostraram que a ataxina-3 mutante é cortada aos pedaços por uma molécula,
chamada calpaína. E também que, quando a calpaína é inativada, os fragmentos
neurotóxicos desaparecem e a destruição cerebelar é interrompida - o que pode
significar a descoberta de uma potencial maneira de travar o processo.
"Mesmo que não consigamos prevenir totalmente a fragmentação da ataxina-3,
o fato de ela abrandar poderia ser suficiente para impedir que a doença
surgisse durante a vida das pessoas, o que representaria uma incrível vitória
sobre esta terrível doença", diz Pereira de Almeida em comunicado.
Os
investigadores quiseram saber se, no rato, seria possível impedir que a
calpaína fragmentasse a ataxina-3. Para isso, utilizaram outra molécula,
chamada calpastatina, um inibidor da calpaína naturalmente presente no
organismo. E constataram que, efetivamente, a introdução de altos níveis de
calpastatina no cérebro dos animais não só permitia reduzir o número de
depósitos de ataxina-3 dentro dos neurônios, como também os estragos cerebrais
e os sintomas neurológicos característicos da doença de Machado-Joseph. Se os
resultados forem válidos no ser humano, fármacos capazes de bloquear a calpaína
poderiam vir, pela primeira vez, a permitir travar a doença. Mas Pereira de
Almeida é prudente: "Este trabalho é mais uma peça do puzzle... não
sabemos ainda o alcance. Temos testado um fármaco [em animais] que parece
promissor, mas não está aprovado para uso clínico, pelo que ainda irá demorar,
mesmo se tudo correr bem, a chegar à clínica.”
Referências: