As complicações pulmonares
representam uma das principais causas de morbidade e mortalidade após cirurgias
cardíacas. A frequência dessas complicações varia em função do tipo de cirurgia
e incisão, dos agentes anestésicos utilizados, dos fatores de risco individuais,
e se o paciente recebe atendimento preventivo de Fisioterapia no pré operatório,
e também, dos métodos utilizados para
avaliá-las em cada estudo. Assim, a incidência de complicações pós-operatórias
relatadas nos estudos varia de 4% a 80%.
O acometimento pulmonar é
decorrente de vários fatores como isquemia, esvaziamento pulmonar durante a
CEC, levando a uma reação inflamatória na circulação pulmonar e mudanças da
permeabilidade da membrana alvéolo-capilar, alterações no padrão respiratório e
os efeitos da anestesia. Estas alterações são mais evidentes logo após a
extubação. Pacientes com evolução normal apresentam disfunções pulmonares
moderadas, que melhoram, gradualmente, com atendimento Fisioterapêutico específico.
Os volumes e capacidades
pulmonares normalmente estão diminuídos no pós-operatório cardíaco. Consequentemente
há diminuição da complacência pulmonar, aumento do trabalho respiratório,
desequilíbrio na relação ventilação/perfusão (V/Q) e redução da pressão parcial
arterial de oxigênio (PaO2). A desigualdade na relação V/Q reduz a captação de
O2 e a eliminação de CO2 do pulmão. Desta forma, o pulmão se torna menos
eficiente para troca de gases, e este desequilíbrio causa, ao mesmo tempo,
hipoxemia e hipercapnia.
Essas anormalidades do período
pós-operatório podem ser caracterizadas como colapso alveolar gradual e
progressivo e torna-se máxima de 48 a 72 horas após a cirurgia, portanto, as
maiorias dos pacientes apresentam alguma combinação de taquipnéia, taquicardia,
diminuição da complacência e aumento do shunt pulmonar; atelectasias e/ou
pneumonia.
Há evidências de que um padrão
respiratório alterado, sem inspirações profundas, é o principal fator que
predispõe às alterações pulmonares após cirurgias cardíacas. Esses achados
podem ser revertidos por esforços para reinsuflar alvéolos colapsados. Além
disso, a investigação do desempenho muscular respiratório em pós-operatório de
cirurgia cardíaca, realizada por diversos autores, tem mostrado que ocorre
diminuição da força muscular respiratória, a qual está relacionada ao trauma a
que estes músculos são submetidos durante esse procedimento cirúrgico. A
diminuição dos valores da pressão inspiratória máxima (Pimáx) e da pressão
expiratória máxima (Pemáx) no pós-operatório também está associada ao
aparecimento da alta taxa de complicações pulmonares.
Atelectasias e pneumonias,
causadas por modificações na mecânica respiratória, são as principais
complicações pulmonares decorrentes das cirurgias cardíacas.
ATELECTASIA
Atelectasia é a complicação mais frequente, com
incidência variando de 7% a 80%, conforme o tipo de cirurgia e o tratamento
instituído. A atelectasia típica do pós-operatório de cirurgias cardíacas é um
estado do tecido pulmonar caracterizado por perda volumétrica, em consequência
da expansão incompleta ou colapso total dos alvéolos, e está diretamente
correlacionada, com uma menor CVF, menor CRF e diminuição da PaO2, sendo mais
frequente no pulmão esquerdo. Dentre as causas da atelectasia destacam-se a
inibição do nervo frênico, compressão intraoperatória do tecido pulmonar e
isquemia durante a cirurgia.
As atelectasias podem causar aumento do trabalho
respiratório e redução da complacência pulmonar e podem aumentar a
predisposição a infecções pulmonares. Entretanto, é importante ressaltar que
algumas atelectasias apresentam resolução espontânea e não têm significado
clínico importante. Os achados radiológicos e clínicos nem sempre estão
correlacionados (sinais de patologias pulmonares, como presença de tosse, secreção
purulenta ou alterações na ausculta respiratória).
PNEUMONIAS
As pneumonias são a segunda complicação mais frequente
(12% a 21% dos pacientes). Essas infecções são atribuídas à diminuição do fluxo
expiratório, do batimento ciliar e à inibição ou ineficácia da tosse. Infecção
pré-operatória ou aspiração peri-operatória também podem favorecer seu
surgimento.
A pneumonia nosocomial é associada com uma
incidência de 24% da mortalidade e, em alguns pacientes mais idosos, ligado a
disfunção pulmonar pré-existente. A pneumonia pós-operatória é associada também
com uma incidência mais elevada de infecção da incisão depois da cirurgia. As
infecções do esterno são particularmente as piores, porque podem conduzir à
instabilidade torácica significativa, que pode culminar em desequilíbrio tóraco
abdominal, com volume de pulmão diminuído e resistência do músculo
respiratória.
DISFUNÇÃO DIAFRAGMÁTICA
O diafragma pode ser funcionalmente prejudicado em
diversas situações devido a lesões diretas ao músculo ou à sua inervação. No
pós-operatório de cirurgias cardíacas, pode ocorrer insuficiência respiratória
de leve à moderada, decorrente de paralisias ou paresias diafragmáticas,
atribuídas à hipotermia, pela utilização de gelo, na cavidade pericárdica, à
dissecção da artéria mamária, seja por lesão direta do eletrocautério ou por
perda da irrigação do nervo frênico.
Clinicamente há suspeita de mau funcionamento do
diafragma, quando se dá redução do reflexo da tosse, quando há fracasso no
desmame associado à dor abdominal e agravamento da dispnéia em decúbito dorsal.
Paresias leves ou moderadas do hemidiafragma esquerdo podem ocorrer em muitos
pacientes, sem grandes repercussões clínicas. Raramente advém insuficiência
respiratória grave após lesão frênica unilateral. Entretanto, são cada vez mais
freqüentes relatos de disfunção bilateral por paralisia do nervo frênico após
cirurgia cardíaca. Tais pacientes devem ser mantidos em respiração assistida
até que haja recuperação parcial ou total da função e seja possível o desmame
ventilatório, o que pode ocorrer em semanas ou até meses.
EDEMA PULMONAR
O edema pulmonar no pós-operatório, quando aparece,
tem como principal consequência a hipoxemia. Os líquidos envolvem os
bronquíolos e arteríolas pulmonares, provocando diminuição do lúmem bronquiolar
e aumento da resistência vascular, com prejuízo da ventilação e da perfusão
pulmonar, levando a hipoxemia. O acúmulo de líquido promove maior compressão no
sentido distal-proximal do pulmão, estabelecendo atelectasias alveolares.
As causas do edema interligam-se à insuficiência
cardíaca esquerda, que eleva a pressão hidrostática ao nível pulmonar, aumento
da permeabilidade capilar (CEC com tempo superior a 150min), à positivação do
balanço hídrico, insuficiência renal, ligada aos efeitos inotrópicos negativos
da anestesia e da disfunção ventricular esquerda. O acúmulo da água
extravascular do pulmão também pode estar associada à alteração da membrana
alveolar-capilar com extravasação de líquido para o espaço pulmonar aumentando
a barreira alvéolo capilar e dificultando as trocas gasosas depois da CEC e
pela hipoalbuminemia.
TROMBOEMBOLISMO
A trombose venosa profunda e a embolia pulmonar são
as complicações pós-cardíaca menos comuns. Isto se deve, provavelmente, ao uso
da medicação anticoagulante, durante a intervenção cardíaca. Os fatores de
risco para a embolia pulmonar que segue a cirurgia cardíaca incluem a
trombocitopenia heparina-induzida (18% dos pacientes) e a doença tromboembólica
precedente (21% dos pacientes).
REFERÊNCIAS
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da função pulmonar e atuação fisioterapêutica em pós-operatório de cirurgia
cardíaca: Revisão bibliográfica.
PARABÉNS CASSIO, MAIS UM INFORMATIVO BEM INTERESSANTE.. REALMENTE UM CONVITE AO APRENDIZADO.
ResponderExcluirMais uma vez obrigado pelo comentário Profa. Anairtes.
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